Josias de Souza
Nos últimos dias, é impossível assistir à programação dos principais canais de televisão sem tropeçar no Mais Médicos. Implantado em ritmo de truque cinematográfico, o programa é vendido numa campanha publicitária do Ministério da saúde como iniciativa redentora. “Mais Médicos para o Brasil, mais saúde para você”, trombeteiam as peças.
No mundo real, profissionais cubanos começam a bater em retirada. Nesta segunda-feira, veio à luz o segundo caso de deserção. Na propaganda oficial, o cubano Yobani Contino Sosa foi aos holofotes para contestar a crítica de que falta suporte para os médicos enviados aos fundões do país: “A estrutura dos centros de saúde é muito boa”, diz ele. “Tem de tudo para que o médico possa trabalhar.”
Na letra fria dos contratos, o governo democrático e popular do PT financia a ditadura de Havana ao permitir que Cuba repasse aos 7.378 médicos que já enviou ao Brasil apenas 10% da remuneração do programa. Na vitrine televisiva, Brasília convida novos médicos a se inscreverem no programa sem dizer que o Éden é coabitado pelos explorados dos irmãos Fidel e Raúl Castro.
“Inscreva-se no programa Mais Médicos para o Brasil até dia 25 de julho”, convida uma atriz vestida de doutora no corredor de um hospital limpinho. “Você conta com uma bolsa mensal de R$ 10 mil, especialização em universidade pública, suporte clínico presencial e à distância, e ainda tem a oportunidade de levar uma vida melhor para os brasileiros.”
Só há uma coisa pior do que o antigovernismo exacerbado: é o pró-governismo gratuito. Tão execrável quanto a exacerbação do discurso de que mais médicos não ajudam a atenuar o drama é uma propaganda que vende a ilusão de que um remendo de última hora apagará décadas de descaso com o SUS.
A desfaçatez é maior quando a propaganda enganosa vai ao ar no instante em que Dilma Rousseff e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha sobem os primeiros degraus do palanque.
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