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sábado, 14 de dezembro de 2013

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

“BARBA”, O ÓBITO MORAL
 RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.

Cientistas políticos, historiadores e desocupados de todas as categorias estão diante de um pitéu de Natal para saborear. Trata-se do relato dando conta de que Lula Silva, o “Barba” ou o “Boi”, como era conhecido nos aparelhos da repressão, era um dos privilegiados informantes do Dops. Pelas anêmicas reações, quer-se crer que o fato já era do conhecimento de todos.
Talvez a crise de liderança seja de tal monta que os companheiros preferiram digerir o sapo barbudo a degolá-lo.
Não há inverossimilhança. Afinal de contas, quando Inácio despontou na política sindical, os militares já não tinham tantos problemas. Ou seja, aparentemente, Lula fazia barulho e greves por melhorias salariais, peitava as montadoras de São Bernardo sem se incomodar se vivíamos ou não sob restrições.
Sob esse prisma, a milicada recebia um verniz para poder mostrar-se ao “mundo livre” que por aqui “as coisas fluíam, posto que até greves de trabalhadores eram permitidas”.
Lula estourava a boca do balão com discursos raivosos (nas horas vagas papava incautas viuvinhas) e a ditadura ainda saía bem nas fotos. São especulações que poderiam ser esclarecidas pelo falecido general Golbery, “o cérebro do regime”, a essa altura somente em alguma sala mediúnica.
É comum apelar-se para a tortura (caso Genoino e outros delatores) quando se tenta justificar esse tipo de incontinência. De fato, o cara na borracha, no afogamento, no choque elétrico e não abrir o bico... Talvez aí resida o paradoxo de um Genoino, uma Dilma, sobreviverem à tortura e um intelectual desarmado – Herzog, por exemplo – ser assassinado. Lula não se inclui entre os supliciados.
Qualquer que fosse o mote, a grande verdade é que vicejava uma “oposição confiável”. Um MDB dócil, não necessariamente submisso, que pretendia, talvez, que o País caminhasse para uma normalidade democrática, mas que aceitava, ao menos temporariamente, as imposições. Os grandes exemplares dessa fauna eram os políticos do Rio de Janeiro, “oposicionistas”, que tinham seus nomes aprovados pela ditadura. Assim, a cínica promiscuidade de um sindicalista com uma ditadura de direita termina sendo palatável. Um pecadilho sem maiores consequências diante daquele conceito de “sindicalismo de resultados”.
É claro que não se trata de um Judas, de um Joaquim Silvério dos Reis... Nem merece entrar na História. Não há decepção. Apenas a constatação do óbito moral.

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