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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

OS MENINOS JORNALEIROS

Alberto Rostand Lanverly

Membro do Instituto Histórico e Goegráfico de Alagoas e da Academia Maceioense de Letras

Eles eram bem jovens, como crianças eram as minhas filhas nos tempos em que todos os dias bem cedinho, as levava de carro para assistir aulas no Colégio Sacramento. Um deles posicionava-se na esquina da Rua Deputado José Lages com a Avenida Álvaro Otacílio, na Ponta Verde e ou outro na Rua Jangadeiros Alagoanos, bem defronte ao Hotel Ouro Branco, no bairro da Ponta da Terra.
Eu me tornara clientes de ambos, comprando a um e a outro igualmente sempre que passava por seus postos de venda.   E eles já me conheciam de longe preparando o jornal para rapidamente realizar a entrega mesmo com o veiculo em movimento. E o que mais me chamava à atenção naquelas duas figuras era a explicita felicidade com exerciam suas tarefas. Fosse ao sol do verão ou na chuva do inverno, lá estavam eles passando adiante, as notícias que movimentaram o mundo nas horas anteriores.
E sempre que seguia meu caminho deixando-os para trás, imaginava como eles podiam sonhar e fazer planos a despeito de todas as dificuldades da vida. E logo entendia que suas importâncias eram de grande relevância para a nossa sociedade, não somente porque passavam adiante as manchetes que fizeram história e que de tempos em tempos se repetem com a mesma veemência, mas principalmente por que neles enxergava criaturas que não demonstravam medo ou culpa de sentir prazer.
Talvez tenha sido por suas influências que aprendi a acreditar na máxima que afirma que papel aceita tudo, passando a ter maior cuidado com o que escrevo. Nunca me esqueço quando segurando o jornal que de um deles receberá, estupefato li que o “governador de então houvera mandado colocar veneno na lagoa, para matar o sururu e prejudicar os pescadores” ou que “um industrial famoso, tinha colocado, ele próprio, uma criancinha dentro de um forno em funcionamento somente, porque o inocente tinha arranhado com um graveto, o seu novo automóvel, modelo caravan” e que “na assembleia legislativa existiam mais funcionários laranjas do que efetivos”. E eles estavam lá, apesar de não serem os responsáveis pelos escritos, sem as suas presenças, os textos, em uma época em que a internet era coisa do futuro, dificilmente atingiriam os leitores.
Os tempos passaram e na medida em que o paralelepípedo que revestia as ruas onde se encontravam os seus postos, de trabalho foram substituídos pelo negro do asfalto, que as casas residenciais e sítios como oJatiuca cederam espaço para lojas, restaurantes e edifícios de luxo, que os pés de amêndoa e de coqueiro foram trocados por calçadões e ciclovias, os jornaleiros meus amigos, deixaram de ser meninos e na atualidade já como adultos, permanecem nos mesmos locais, ainda na mesma atividade, um bem gordinho e extremamente simpático, o outro risonho e afável.
Hoje, não sou mais seus cliente, contudo diariamente os vejo e ao me aproximar percebo claramente que ambos, quilômetros de distancia um do outro, singelamente realizam o mesmo gesto de outro, quando me ofereciam o jornal. Para mim estas duas criaturas, representam o exemplo de entusiasmo e coragem para vencer desafios com toda a disposição de tentar sempre de forma honesta, quantas vezes for preciso.

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