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segunda-feira, 8 de julho de 2013

O GLOBO NA 11ª FESTA LITERÁRIA DE PARATY - MATÉRIA PUBLICADA DIA 4 DE JULHO - QUINTA-FEIRA


Enviado por Thais Lobo - conterrâneo de Graciliano Ramos














Ele dispensa o casaco oferecido pela mulher e dispara: “Prazer, eu sou o Carlito Lima, da terra de Graciliano”. Aos 73 anos, Capita, como é conhecido em Alagoas, compartilha mais do que o local de nascimento com o homenageado da 11ª Festa Literária Internacional de Paraty. Romancista e cronista, o escritor também aventurou-se na política, como prefeito de Barra de São Miguel. Mas foi a experiência no Exército e seu lado contador de histórias que lhe abriram as portas para a literatura, aos 61 anos. 

O envolvimento tardio com os livros não impediu que o escritor mantivesse um espírito impetuoso em sua produção literária. Desde a publicação de “Confissões de um Capitão” em 2011, Carlito já escreveu outro romance e mais de 600 crônicas, publicadas semanalmente na “Gazeta de Alagoas” e compiladas em 14 livros. A obra mais recente, “Almoçando com Nery na casa do Moreira e mais 41 historinhas”, ele lança hoje, às 16h, na mesa da Off Flip intitulada “Um certo capitão Carlito”, na Casa do Clube dos Autores, que fica na Rua Santa Rita. 

— Sempre soube que tinha tendência para alguma arte. Tentei pintura: não deu. Violão: horrível. Como eu contava muitas histórias da vida militar, meus amigos me encorajaram a reuni-las em livro. Mas eu não esperava a repercussão que teve — lembra Carlito, pela sétima vez na Flip. 

O ex-capitão estava lotado na 2º Companhia de Guarda, espécie de tropa de elite do Exército em Recife, quando o golpe militar de 1964 estourou. Ali foi carcereiro de presos políticos como Arraes, Julião, Gregório Bezerra, Paulo Freire e Pelópidas Silveira. A convivência de mais de um ano com essas figuras, entretanto, fez com que Carlito quebrasse protocolos. 

Num domingo, ao ver Paulo Freire deprimido em uma cela individual, Carlito sugeriu que ele fingisse estar passando mal para que fosse levado para a enfermaria. O educador fora preso sob a acusação de que seu método de alfabetização era subversivo. 

— Quando ele chegou na enfermaria, já tinha outro preso que eu tinha mandado para lá. Eu nem me lembrava mais dessa história até que encontrei o Paulo Freire um dia em Maceió e ele me disse como esse dia foi importante para ele — conta. 

A proximidade com os presos também rendeu um romance para Carlito. Durante uma visita de familiares no presídio, ele conheceu a filha de um preso político. Encantou-se e engatou um namoro “dos anos 1960, de mãozinha dada”. A aventura, porém, resultou na transferência do militar para um destacamento na Serra da Raposa do Sol, em Roraima, por dois anos. 

— Nem o pai gostou, nem os coronéis — relembra. 

Carlito deixou o Exército voluntariamente em 1972 para concluir o curso de engenharia sanitária. Atuou algum tempo como ambientalista e assumiu a prefeitura de Barra de São Miguel nos anos 1980. Em 2009, aceitou um convite para comandar a Secretaria de Cultura de Marechal Deodoro, uma cidade de 417 anos e 50 mil habitantes a 28 quilômetros de Recife. Da nova empreitada política, o escritor criou a Festa Internacional de Marechal Deodoro (Flimar). A quarta edição do encontro, realizado de 25 a 28 de setembro, vai homenagear Graciliano e o diretor e roteirista Cacá Diegues, este amigo de infância de Carlito. 

— Eu costumo dizer que já fui tudo. Já fui capitão, prefeito, engenheiro, ambientalista e até presidente de escola de samba. Sou ex-tudo. Só não quero ser ex-escritor. Acho que é isso que está na minha veia — afirma.

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