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sexta-feira, 31 de maio de 2013

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

O TEMPO DIVIDIDO EM FATIAS…

Alberto Rostand Lanverly
Membro da Academia Maceioense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas
                

A sabedoria dos seres racionais é exuberante. Milênios atrás, enquanto um de nossos ancestrais teve a brilhante ideia de dividir o tempo em fatias, outro deu sustentação à teoria dos algarismos, redundando na tese de que, enquanto um mês teria, em média, trinta dias de duração, um ano seria composto por doze dessas amostras. E aí, foi estabelecida a certeza de que a permanência do homem na terra seria composta de etapas que obedeceriam a uma escala crescente, iniciada em zero, quando de seu nascimento, evoluindo até o incerto infinito, estabelecido no dia de sua morte.
            Daí, surgiu, não somente a ideia do velho e do novo para caracterizar os de muita ou pouca idade, mas, principalmente, a oportunidade de se estabelecer que, a cada etapa vivida, todos têm a oportunidade de recomeçar novamente, sobretudo pelo fato de que, quem aniversaria, possui o arbítrio de reescrever sua história ou simplesmente manter-se fiel aos bons capítulos que a existência transformou em seu próprio Best Seller.
            Dias atrás, vivenciei esta data mística. O dia de nosso aniversário, por ser o marco delimitador de um ciclo que se encerra e outro que se renova, apresenta características semelhantes, para todos os seres humanos. Naquela data, acordamos, trabalhamos, nos alimentamos, dormimos, como em outra qualquer. Contudo, todos sabem que o ontem faz parte de uma passada época, diferente grupamento. Já integramos a era dos “enta”. Contudo, em nossa mente, nada parece se ter alterado, não fosse um cabelinho branco que, de uma hora para outra, surgiu na extremidade do pulso, no braço esquerdo.
            Para mim, dividir o tempo em fatias é interessante. Não somente porque posso armazenar, por fases, nas simbólicas prateleiras de meu coração, fatos e feitos – bons ou nem tanto – relevantes para meu amadurecimento, como pessoa, mas, principalmente, porque sempre, naquela data, amanheço como se estivesse caminhando em meus jardins mais secretos, ambientes assim considerados por me transmitirem paz, onde tenho condições de meditar sobre meus sonhos e realizações.
            De onde vim, e como aqui cheguei; as planícies que caminhei; as montanhas que escalei; as cidades onde vivi e as pessoas com quem convivi. Volto no tempo e me vejo com cabelos despenteados e bem compridos, na cabeça e no rosto, calça coringa, camisa banlon e sapato tipo cavalo de aço, almejando um dia cursar engenharia civil. Adianto o relógio das décadas e já estou a rastejar, no chão da sala, com Arthur meu Neto e Beatriz minha Flor. Olho de lado e vejo a felicidade no cotidiano que vivencio, mudo a vista para o outro e já não consigo enxergar ao meu lado pessoas amadas, que já partiram.
            Fatiar o tempo foi muito importante: pudemos, definitivamente, constatar que somos, não somente o que sonhamos, mas, acima de tudo, aquilo o que reivindicamos e conseguimos, através da verdade e da luta. Assim, conseguimos envelhecer, tendo como base a regra padrão do universo, e, sobretudo, sempre trazendo, a cada dia, a consciência de que valeu a pena estar vivendo.

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