BUENOS AIRES - Na segunda-feira às 13:15 o telefone tocou na banca que fica perto da esquina da Rua Bolivar com a Avenida Hipólito Yrigoyen, em frente à Praça de Maio. O homem que estava no comando, o filho do dono, atendeu e percebeu que era uma voz familiar.
- Olá, Daniel, quem fala é o cardeal Jorge - disse ele.
- Fala, Mariano, pare de idiotice - ele respondeu, pensando que era um amigo que sabia que o Papa Francisco, quando era arcebispo de Buenos Aires, comprava o jornal ali.
- Sério, eu sou Jorge Bergoglio, e estou ligando de Roma - respondeu do outro lado da linha.
- Eu entrei em choque, comecei a chorar, sem saber o que dizer - contou. - Ele me agradeceu pelo tempo que entregamos o jornal e me enviou uma saudação à família.E Daniel Del Regno explodiu em lágrimas.
Luis Del Regno e Daniel, pai e filho, são, desde 1997, proprietários da banca que fica no número 478 da Avenida Hipólito Yriogoyen. Até que Jorge Bergoglio viajasse a Roma para o conclave e fosse eleito sucessor de Bento XVI, os jornais saíam da banca dos Del Degno de segunda a sábado e chegavam às 5h30m, na Avenida Rivadavia, 41, onde morava o Bergoglio.
- No domingo, às 5h30m, ele passava pela banca, comprava o “La Nación”, conversava por uns dez minutos e pegava o ônibus 28 para ir para Lugano dar mate cozido aos meninos e às pessoas doentes - disse. - Eu posso contar milhares de histórias. Por exemplo, ele levava o “La Nación” num plástico, para que o jornal não perdesse as folhas se chovesse ou ventasse. E no final do mês trazia os 30 exemplares que comprou.
Luis reconheceu que fica “arrepiado” quando se lembra de que aquele homem simples agora é o Papa.
- Em junho, no batizado do meu neto, foi uma emoção impressionante. E, ontem (segunda-feira), ele ligou para meu filho no quiosque, de Roma, para dizer ‘Olá’ e avisar que não precisava mais levar o jornal diariamente porque ele não estaria mais lá. É algo inesquecível na minha vida: eu sei o que ele é, um cara único.
Seu filho Daniel disse, animado, sobre a conversa com o Papa.
- Falamos sobre um detalhe que aconteceu há um mês, quando ele saiu, nós sabíamos que para viajar. As palavras que eu disse foram: 'George, você vai pegar o bastão? E ele respondeu: ‘Isso é uma batata quente, vejo você em 20 dias, continue levando o jornal’. Bem, depois.... é história já conhecida.
- Eu disse para ele se cuidar, que ia sentir sua falta e mandei um beijo grande. E perguntei se havia alguma chance de vê-lo novamente, algum dia. Ele disse que, em algum tempo a partir de agora, vai ser muito difícil, mas que estaria sempre presente.
Finalmente, Francisco pediu a Daniel que orasse por ele.
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