O padre coordena a paróquia da Villa 21, favela no sul de Buenos Aires que abriga aproximadamente 45 mil habitantes e onde Bergoglio fazia visitas regulares para acompanhamento dos fiéis e das obras sociais ali desenvolvidas. "Ele é progressista sobretudo em questões relacionadas à imagem da igreja, aos gestos, à atitude", declarou De Vedia à Folha e a um diário italiano em seu escritório, contíguo à Capela da Virgem dos Milagres de Caacupé, uma das oito com que conta a favela. Silvana Arantes/Folhapress O padre Lorenzo de Vedia, conhecido como padre Toto, fala aos fiéis da paróquia da Villa 21, no sul de Buenos Aires Se é progressista quanto à imagem, Bergoglio é "clássico, mais até do que conservador", afirma o padre argentino, em temas cujo debate mobiliza a opinião pública em boa parte do planeta, como aborto, união homossexual e igualdade de gênero. Embora defina Bergoglio como "clássico" em muitos temas, De Vedia diz também considerá-lo como "alguém muito aberto, que, por exemplo, repreendeu padres que negavam o batismo a filhos de divorciados". Na opinião de De Vedia, o papa Francisco imprimirá mudanças e avanços no Vaticano, mas ele julga "ingênuo esperar algo mágico" de seu papado, já que a igreja obedece "aos tempos históricos, em que as mudanças são muito mais lentas do que se pode querer". Além de estar atrelada ao ritmo do tempo histórico, a Igreja Católica também não se desassocia das conjunturas políticas, assinala. "CONFUSÃO" O religioso conta ter tido o apoio de Bergoglio para uma iniciativa na fronteira entre a política e religião. "Certa vez, eu tive a ideia de instalar uma barraca missionária na praça Constitución (uma das principais da cidade de Buenos Aires)", diz o padre. Acampamentos com barracas são recurso comum aos grupos de protesto na cidade, sendo alguns deles permanentes. De Vedia diz que obteve o sinal verde de Bergoglio com a frase: "Vá em frente. É preciso criar confusão". A interpretação que o padre oferece para a expressão "criar confusão" dita por Bergoglio é a de que "a igreja não tem que controlar as pessoas, tem de acompanhá-las". Para De Vedia, a eleição do argentino como papa "corrobora a convicção e dá força internamente" aos que, como ele, têm em seu estilo pastoral "inclinação para viver em ambientes populares". Quanto à "opção pelos pobres" enfatizada pelo papa, De Vedia acha que não deveria "ficar reduzida a alguns setores, mas sim se estender por toda a igreja".
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