Carlos Chagas
Perguntaram a Getúlio Vargas como havia resolvido o problema dos tenentes, que tanto haviam contribuído para a Revolução de Trinta, mas, depois da vitória, viram-se relegados ao papel de medíocres atores descartados da inauguração da peça a ser representada sem eles. O sagaz caudilho respondeu: “promovi-os a capitães…”
Não foi bem assim, porque uma parte dos tenentes, Getúlio cooptou como interventores em diversos estados, levando uns a encetar longas carreiras políticas e outros a mergulhar nas profundezas da incapacidade de perceber que o mundo havia mudado. Se alguns dos tenentes de 30 chegaram a generais em 64, a verdade é que a categoria dissolveu-se no eterno embate entre amadores e profissionais. Juracy Magalhães, Cordeiro de Farias, Filinto Muller e Eduardo Gomes, entre outros, sobreviveram, mas os demais foram levados no rodamoinho das divergências e dos entreveros de um ideal que não era mais o deles.
Essa constatação se faz a propósito do PT. Antes da tomada do poder, quantos idealistas havia, dispostos a sacrificar a própria alma em prol da mudança de usos, costumes, instituições e postulados que regiam o país? Hoje, dez anos depois da ascensão do Luiz Inácio Vargas da Silva à presidência da República, onde andam seus “tenentes”? Aqueles acomodaram-se à promoção a “capitães”, esquecendo das origens e seguindo carreira esmaecida no batalhão dos companheiros. Estes viram-se momentaneamente elevados a “interventores”, ainda que obrigados, para sobreviver, a esquecer as origens dos bancos sindicais ou das sacristias. Outros integram-se à nova ordem, tão distante de suas inspirações, boiando para evitar o naufrágio.
Sem sombra de dúvida, desapareceram os fundadores do PT. O novo Getúlio engoli-os um por um, livrando-se dos últimos iludidos com a esperança do falso condomínio do poder que nunca tiveram.
Assim como passou a epopéia dos tenentes, escafedeu-se o período daqueles heróicos fundadores do PT que vinham de antes da criação formal do partido, empenhados num movimento que os deglutiu e até expeliu. Os remanescentes tiveram que aceitar esse singular Estado Novo, onde a vontade do primeiro-companheiro prevalece imperialmente. Os que aderiram continuaram, de tenentes passando a capitães. Até a interventores, aqui e ali. Os outros sumiram no cárcere do esquecimento, sabendo que não amanhecerá a desejada e inadmissível alvorada democrática um dia imaginada.
Numa palavra, o PT dos tempos da fundação saiu pelo ralo. Não adiantou o sacrifício de 23 anos atrás.
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