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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

UM TEXTO DE CARLOS CHAGAS

SUMIRAM OS TENENTES

Carlos Chagas

Perguntaram a Getúlio Vargas como havia  resolvido o problema dos tenentes, que tanto haviam contribuído para a Revolução de Trinta, mas, depois da   vitória,   viram-se relegados  ao papel  de   medíocres atores   descartados da inauguração  da  peça a ser representada sem eles. O sagaz caudilho respondeu: “promovi-os a capitães…”
Não foi bem assim, porque uma parte dos tenentes,  Getúlio cooptou como interventores em diversos estados, levando uns a encetar longas carreiras políticas e outros a mergulhar  nas profundezas   da incapacidade de perceber que o mundo havia mudado.   Se alguns dos tenentes de 30 chegaram a generais em  64, a verdade é que a categoria dissolveu-se no  eterno  embate entre amadores e profissionais.  Juracy Magalhães, Cordeiro de Farias, Filinto Muller  e Eduardo Gomes, entre outros, sobreviveram, mas os demais  foram levados  no rodamoinho das divergências e dos entreveros de um  ideal que não era mais o deles.  
Essa constatação se faz a propósito do PT. Antes da tomada do poder, quantos idealistas havia,  dispostos a sacrificar a própria alma  em prol da mudança de  usos, costumes, instituições e postulados que regiam o  país? Hoje, dez anos depois da ascensão do Luiz Inácio Vargas  da Silva à presidência da República, onde andam seus “tenentes”? Aqueles  acomodaram-se à promoção a “capitães”, esquecendo das origens e seguindo carreira esmaecida no batalhão dos companheiros. Estes viram-se momentaneamente elevados a “interventores”,  ainda que obrigados, para sobreviver, a esquecer as origens dos bancos sindicais ou das  sacristias. Outros  integram-se à nova ordem, tão distante de suas inspirações, boiando para evitar o naufrágio.
Sem sombra de dúvida, desapareceram os fundadores do PT. O novo Getúlio engoli-os um por um, livrando-se dos últimos   iludidos com a esperança do falso condomínio   do poder   que nunca tiveram.
Assim como passou a epopéia dos tenentes, escafedeu-se o período daqueles heróicos  fundadores do PT que vinham de antes da  criação formal  do partido, empenhados num movimento que os deglutiu e até expeliu. Os remanescentes tiveram que aceitar  esse singular Estado Novo,  onde a vontade do primeiro-companheiro prevalece imperialmente.  Os que aderiram continuaram, de tenentes passando a  capitães. Até a interventores, aqui e ali.  Os outros  sumiram no cárcere do esquecimento, sabendo que não amanhecerá a desejada e  inadmissível alvorada democrática um  dia imaginada. 
Numa palavra, o PT dos tempos da fundação  saiu pelo ralo. Não adiantou o sacrifício  de 23 anos atrás.

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