O
RÉVEILLON DE JANDIRA
Pela
tardinha Jandira entrou em casa com o bom humor de seus 23 anos, encontrou a
mãe paciente, sorrindo naquele último dia do ano.
-
Pronto mamãe acabou-se o emprego temporário estou desempregada, resta uma
esperança, a loja do shopping me contratar definitivamente. Está aqui um dinheirinho
para ajudar as despesas.
-
Menina você é boa funcionária, honesta, pontual, tenho certeza, será chamada, vá
divertir sua juventude, sua alegria, aproveite enquanto é moça.
Jandira
deu-lhe um beijo, tirou a roupa suada, olhou-se no espelho, gostou do que viu,
esbelta, bela e sensual morena. Entrou no banheiro, uma longa chuveirada, esfregou
devagar com carinho todas as partes do corpo. Limpou até a alma enquanto
planejava o que fazer naquela noite de ano novo. Jandira adora fogos, tem
fascínio pelo brilho, pelas festas. Telefonou para prima, amiga inseparável,
Josete. “Aonde vamos na passagem de ano?”
-
Querida, o melhor programa é a orla enfeitada, show e queima de fogos, estamos
solteiras, vamos nos soltar e seja o que Deus quiser.
Eram
nove da noite quando Jandira abraçou a mãe. “Juízo, menina.” Ficaria em orações
pedindo um ano novo de paz, felicidade e que Jandira tenha o emprego, a pensão
de viúva de funcionário do Estado é minguada.
As primas tomaram o ônibus no Jacintinho
saltaram perto do Hotel Jatiúca, caminharam pelo calçadão em direção à Ponta
Verde onde estavam preparados fogos e shows. Duas morenas, vestidos brancos,
charmosas, radiantes, chamavam atenção. Clima de festa, a avenida interditada
para carros, o povo passeando na rua, menino, velho, mulher, turistas saíam dos
hotéis, réveillon, ambulantes vendiam cerveja. A ornamentação dos prédios juntava-se
à decoração de lâmpadas douradas e prateadas caindo dos postes formando desenhos,
muita luz, muita paz e alegria. No caminhar sentaram em um banco, beberam duas
latinhas de cerveja olhando o mar iluminado por possantes lâmpadas dos altos
postes de concreto. Ao se levantarem, uma visão, apareceram dois homens
bonitos, altos, bem vestidos, tentando conversar em um português-espanhol
itálico.
-
Belas ragazzas, és las piús belas donnas en Brasil, me llamo Piero, mi amigo,
Luigi.
-
Sou Jandira, ela Josete, vamos olhar os fogos e dançar no show, se quiserem
podem nos acompanhar.
Piscou o olho para prima, duas belas morenas
brasileiras, dois italianos bonitos caminharam pela orla tentando se entenderem,
conversaram, beberam, brindaram. Eram turistas, de Nápoles, encantados com a beleza
da cidade, do mar, do alegre réveillon e das mulheres.
Ao bater meia-noite estavam na orla da Ponta
Verde, de repente ouvi-se o primeiro estouro, uma labareda subiu ao céu ribombou
em estrelas coloridas, cintilantes. Se abraçaram, se beijaram, feliz ano novo,
gritavam as pessoas alegres, sorrindo. Piero comprou uma garrafa de champanhe,
tomaram pelo gargalo, enquanto os fogos continuavam embelezando o céu, a lua
tão bonita desapareceu, seu brilho foi encoberto pelo brilho das estrelas
coloridas.
Noite adentro até o amanhecer os quatros caíram
na folia, show popular, virada do ano, beberam, comeram, comemoraram. Jandira
acordou-se no primeiro dia do ano às três da tarde no quarto do hotel, o
italiano servindo-lhe uma bandeja cheia de frutas, pão, café, carinho e amor.
Luigi retornou à Nápoles, Piero resolveu
esticar as férias até o final do mês, alugou um carro, está conhecendo as
belezas do litoral das Alagoas ciceroneado por Jandira, a desempregada.
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