Páginas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


O RÉVEILLON DE JANDIRA

      
    Pela tardinha Jandira entrou em casa com o bom humor de seus 23 anos, encontrou a mãe paciente, sorrindo naquele último dia do ano.
- Pronto mamãe acabou-se o emprego temporário estou desempregada, resta uma esperança, a loja do shopping me contratar definitivamente. Está aqui um dinheirinho para ajudar as despesas.
- Menina você é boa funcionária, honesta, pontual, tenho certeza, será chamada, vá divertir sua juventude, sua alegria, aproveite enquanto é moça.
Jandira deu-lhe um beijo, tirou a roupa suada, olhou-se no espelho, gostou do que viu, esbelta, bela e sensual morena. Entrou no banheiro, uma longa chuveirada, esfregou devagar com carinho todas as partes do corpo. Limpou até a alma enquanto planejava o que fazer naquela noite de ano novo. Jandira adora fogos, tem fascínio pelo brilho, pelas festas. Telefonou para prima, amiga inseparável, Josete. “Aonde vamos na passagem de ano?”
- Querida, o melhor programa é a orla enfeitada, show e queima de fogos, estamos solteiras, vamos nos soltar e seja o que Deus quiser.
Eram nove da noite quando Jandira abraçou a mãe. “Juízo, menina.” Ficaria em orações pedindo um ano novo de paz, felicidade e que Jandira tenha o emprego, a pensão de viúva de funcionário do Estado é minguada.
   As primas tomaram o ônibus no Jacintinho saltaram perto do Hotel Jatiúca, caminharam pelo calçadão em direção à Ponta Verde onde estavam preparados fogos e shows. Duas morenas, vestidos brancos, charmosas, radiantes, chamavam atenção. Clima de festa, a avenida interditada para carros, o povo passeando na rua, menino, velho, mulher, turistas saíam dos hotéis, réveillon, ambulantes vendiam cerveja. A ornamentação dos prédios juntava-se à decoração de lâmpadas douradas e prateadas caindo dos postes formando desenhos, muita luz, muita paz e alegria. No caminhar sentaram em um banco, beberam duas latinhas de cerveja olhando o mar iluminado por possantes lâmpadas dos altos postes de concreto. Ao se levantarem, uma visão, apareceram dois homens bonitos, altos, bem vestidos, tentando conversar em um português-espanhol itálico.
- Belas ragazzas, és las piús belas donnas en Brasil, me llamo Piero, mi amigo, Luigi.
- Sou Jandira, ela Josete, vamos olhar os fogos e dançar no show, se quiserem podem nos acompanhar.
   Piscou o olho para prima, duas belas morenas brasileiras, dois italianos bonitos caminharam pela orla tentando se entenderem, conversaram, beberam, brindaram. Eram turistas, de Nápoles, encantados com a beleza da cidade, do mar, do alegre réveillon e das mulheres.
   Ao bater meia-noite estavam na orla da Ponta Verde, de repente ouvi-se o primeiro estouro, uma labareda subiu ao céu ribombou em estrelas coloridas, cintilantes. Se abraçaram, se beijaram, feliz ano novo, gritavam as pessoas alegres, sorrindo. Piero comprou uma garrafa de champanhe, tomaram pelo gargalo, enquanto os fogos continuavam embelezando o céu, a lua tão bonita desapareceu, seu brilho foi encoberto pelo brilho das estrelas coloridas.
 Noite adentro até o amanhecer os quatros caíram na folia, show popular, virada do ano, beberam, comeram, comemoraram. Jandira acordou-se no primeiro dia do ano às três da tarde no quarto do hotel, o italiano servindo-lhe uma bandeja cheia de frutas, pão, café, carinho e amor.
       Luigi retornou à Nápoles, Piero resolveu esticar as férias até o final do mês, alugou um carro, está conhecendo as belezas do litoral das Alagoas ciceroneado por Jandira, a desempregada.
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário