A SOBERANA DIALÉTICA MATERIALISTA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Atingido em pleno vôo, participo
da dor dos familiares pela precoce morte do jovem piloto alagoano Leonardo
Lessa, o Léo, para os íntimos. Em ascensão profissional, irremediavelmente apaixonado pela aviação
desde os primeiros passos, em várias ocasiões, teria confessado “morrer feliz”
caso viesse a falecer pilotando um avião. Em meio ao sofrimento, ao vazio da
ausência, fica o consolo de um ente
amado ter vivido intensa e plenamente, não obstante a idade de 30 anos. Para
Leonardo, a aviação foi vida, paixão e morte.
Embora digam que a Fé ajuda a suavizar
a dor, infelizmente, não me alinho àqueles que advogam que as pessoas têm
missões a cumprir nesse “vale de lágrimas”. Uma vez concluído o que se lhe determinou o destino, são chamadas de volta, ao Pai. Não creio que haja “outras dimensões” e que a
nossa efêmera “passagem” por aqui seja uma preparação, recompensa, muito menos um
castigo.
Anos atrás, num mesmo novembro,
dois filhos foram friamente assassinados. Estavam em casa. Não tinham qualquer
atividade de risco. Não eram seqüestradores, terroristas, viciados, pichadores
de muros, assaltantes de banco. Não participavam de nenhuma organização
criminosa que dilapidasse os cofres públicos.
Estudantes jovens, absolutamente
normais, alegres, cheios de sonhos, com
certeza não haviam cumprido nenhuma missão especial. Tinham projetos, pensavam
em concluir seus cursos, casar, ter filhos... Serem felizes, enfim.
Busquei explicações aqui e alhures. Um padre me garantiu
que era obra do diabo, que estava solto pelo mundo. Estranhei a afirmação. E
onde está Deus? Quis saber. “Sofrendo com os seus filhos”. E a tal folha seca
que não cai sem prévio consentimento Dele? “É o livre arbítrio, querido”.
Um espírita concedeu-se proclamar
uma clarividência que nem Kardec, nem Chico Xavier, nem Bezerra de Menezes alcançaram:
“Seus filhos estão bem, recebidos pela
avó, Rosinha. Nesse momento, a Lavínea está consolando o Roninho, meio que
ainda inconformado com o ocorrido”.
O esquerdista recorreu a Marx:
´”Na soberana dialética materialista, é a irrefreável vitória do proletariado”.
Balelas. A anatomia do crime foi ficando
claro. Um bandido abrigou-se na minha casa. Uma ex-patroa fazia o papel de
intrujona, recebendo produtos de roubo. A loja de armas forneceu uma caixa de
balas. Um militar vendeu um revólver. O resto é história para boi dormir.
A nós pais, Rosa Lessa, sobram as
lembranças e as dores da saudade.
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