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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CARTA A RUI PALMEIRA




Não tenho dúvida, no dia 1º de janeiro de 2013 tomará posse na Prefeitura de Maceió um jovem idealista, decente, honesto, de linhagem familiar dedicada à comunidade alagoana. A querida e bela capital esta
rá em boas mãos.
Sei que a prioridade hoje é educação, saúde e segurança, entretanto, a cultura está incorporada às necessidades fundamentais do homem. Fiquei feliz por seu comprometimento com nossa cultura popular, ela ainda depende da vontade política dos governantes para sobreviver.
Porém meu caro Rui, o tema desta carta é o término da maior manifestação cultural de nosso povo. Alguns criminosos acabaram em Maceió com o direito à alegria, o direito à fantasia, o direito aos dias de folia que se chama carnaval.
Alegando que turistas visitam nossa cidade por não ter carnaval, simplesmente acabaram com o carnaval. Inventaram esse argumento esdrúxulo, equivocado, uma violência contra a população, contrariando o Estatuto do Homem em seu art. VII: “Fica estabelecido que a alegria seja uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.” Em Maceió cassaram o Rei Momo. Roubaram a alma do povo.
Durante o último carnaval fiz uma pesquisa aleatória perguntando a um e outro turista se tinha vindo a Maceió pelo fato de não haver carnaval na cidade. Todos responderam, vieram pela beleza das praias, gostariam até de olhar algum movimento do carnaval. A cidade deserta, os restaurantes vazios, os ambulantes não venderam sequer para pagar o gelo.
Outro argumento de um coveiro do carnaval, “Maceió tem prévia carnavalesca animada, não precisa carnaval.” De fato na semana anterior é organizado um desfile de blocos em Jaraguá. Sábado pela manhã o grande desfile do Pinto da Madrugada na orla. Ótimo! Não queremos acabar a prévia, queremos até melhorá-la, robustecê-la, entretanto, não aceitamos ficar sem carnaval nos dias de carnaval. Esse ano um gestor público declarou na televisão: ”Não existe tradição carnavalesca em Maceió”. Fiquei indignado, irado. O Moleque Namorador, Rás Gonguila, Maestro Passinha, Edécio Lopes, Major Bonifácio, Marcial Lima, tremeram no túmulo.
O carnaval começava 15 dias antes com a Maratona Carnavalesca todas as noites na Rua do Comércio, orquestras de frevo em cada esquina, o corso com carros abertos, a moçada caía no passo. Domingo antes do carnaval, o banho de mar à fantasia animado com blocos de frevo, fantasias, troças e críticas. No sábado de Zé Pereira o belo desfile das Escolas de Samba. Todas as noites no Comercio o frevo alegrava os corações dos foliões, as festas nos clubes só terminavam com um mergulho no mar ao som do Vassourinha e o sol raiando. Nossa cultura carnavalesca tem história. Exigimos respeito.
Na verdade, os coveiros do carnaval de Maceió estão se lixando para o povo. A elite egoísta pensa que Maceió é a Ponta Verde. Eles brincam o carnaval em suas mansões na Barra de São Miguel, no Recife, Salvador ou Rio.
Ano passado houve uma tentativa da comunidade, o radialista Miguel Torres da Rádio Jovem Pan reuniu figuras carnavalescas, aconteceram algumas reuniões, entretanto, nosso carnaval continuou uma tristeza.
Por isso amigo Rui, em nome dos que amam essa cidade, pedimos veementemente, não deixe acabar nosso carnaval. Não queremos, nem poderá ser igual ao passado, existirá uma fórmula a ser encontrada.
É de fazer chorar ver nossa bela Maceió abandonada, deserta durante o carnaval, sem blocos de frevos nas ruas, sem batidas de bombo, ninguém passa mais sorrindo e cantando cantigas de amor.
Caro Rui a ressurreição da maior manifestação cultural do nosso povo depende de sua vontade. Aposto também no aquecimento da economia, o comércio carnavalesco gera emprego e renda. Durante o carnaval mais de 100 mil maceioenses, pobres e ricos, viajam em busca da alegria roubada, a evasão de divisas é incalculável. Não será difícil encontrar patrocínio se for um projeto sério. Carnaval é coisa séria. Aqui fico torcendo pelo amigo.
 Abraço em Guilherme e Suzana.
 Do velho folião.
 Carlito Lima
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