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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND


HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO
ALBERTO ROSTAND LANVERLY
MEMBRO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DE ALAGOAS E DA ACADEMIA MACEIOENSE DE LETRAS
            Há pouco mais de uma semana, o brasileiro se encontra quase que obrigado a conviver com o “horário eleitoral gratuito”, que, a cada dois anos, se renova, apresentando, na televisão e rádio, a face e a voz de figuras carimbadas, algumas velhas conhecidas, de “guerras passadas”, outras noviças, que pretendem segurar o “diploma de representantes do povo”.
            A repugnância por estes momentos de discursos, proferidos pelos que almejam galgar o poder, só é, na atualidade, comparado a repulsa que existe à “Voz do Brasil”, diariamente veiculado pelas ondas do rádio, visando, prioritariamente, “proclamar” os atos dos poderes constituídos, principalmente, na Capital Federal.
            Recordo que, em minha infância, “escutar” as notícias do governo, era quase uma “obrigação” dos mais velhos, que viviam a belicosa época do “Brasil ame-o ou deixe-o” e de “um país que vai para frente”. Na realidade, nos calabouços da obscuridade, os “coturnos” e seus discípulos, nem sempre realizavam o que divulgavam. Os tempos passaram e a democracia, cada vez, mais se estabeleceu. Contudo, o resquício da “ditadura” diariamente reverbera sua sobrevivência, sempre as dezenove horas como antigamente.
            O “Horário Eleitoral Gratuito” tem um pouco a ver com a “Voz do Brasil”. A grande diferença se encontra no fato de que, dependendo do status do processo eleitoral que se aproxima, é o único momento em que o povo, em geral, consegue ver o “político”, indiscriminadamente, em (que pena que não é “na”) “cadeia”, seja ela nacional, estadual ou municipal.
            Se a imprensa exerce uma forte influência sobre a sociedade, tornando transparentes atos e costumes que, até bem pouco tempo, jamais seriam divulgados; Se o poeta “canta”, aos quadrantes do globo, as qualidades de nossa terra, como se constata no imortalizado poema: “Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos...”, o “Horário Eleitoral Gratuito” obriga o cidadão do povo a conhecer figuras interessantíssimas, ideias estapafúrdias, propostas inexequíveis e, até, a ouvir impropérios que jamais seriam pronunciados, em uma terra medianamente civilizada, quando se apresentam, a si próprios, como “o paladino da justiça, da lei, da ordem, da saúde”, e, por aí vai...
            O grande problema reside no fato de que, no Brasil moderno, existe uma explicita “criminalização da política”, vez que, para a grande maioria, esta complexa ciência se caracteriza como sinônimo de escândalo. Que bom seria que nesta época o “Horário Eleitoral Gratuito” ocupasse o espaço da “Voz do Brasil”, e ali ocorressem debates relevantes para a sociedade assistente... Aí, sim, candidaturas que só alcançam respaldo pela falta de crivo crítico, dificilmente obteriam sucesso.
            Mas, como estamos no Brasil, só me resta sonhar com um futuro, onde Arthur, “meu neto” e sua irmã, Beatriz, “minha flor”, nas épocas eleitorais de seu tempo, não tenham os ouvidos maculados com a débil e despreparada amostra, como a qual temos de conviver.

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