A HORA DA COBRANÇA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
O respeitável colunista Sebastião
Nery, um dos mais bem informados jornalistas do país, sem rodeios, aponta o
ex-presidente Lula como o mentor da compra de parlamentares, expediente que
ficou conhecido como “mensalão”.
Com ou sem aspas, dependendo das paixões políticas pessoais, o esquema
funcionou azeitado por dinheiro público até que alguém abriu o bico mostrando o
momento em que um funcionário dos Correios recebia, à sorrelfa, uma babinha.
Surgia o falastrão Roberto
Jefferson que entregaria todo o funcionamento dando nome aos bois, com inegável
conhecimento de causa.
Como pedras de um dominó, foram
caindo figuras carimbadas freando de súbito no ministro José Dirceu, o “número 2” da novel república popular
socialista brasileira.
Verdadeira tragédia. Gente como Genoíno, João Paulo, Silvinho
(“Land Rover”) e Delúbio, além do próprio Dirceu, na contramão das evidências,
insistiam que seu partido “não roubava nem deixava roubar”. A culpa era da
imprensa revanchista, golpista e rancorosa. E tome deputado a renunciar ao
cargo para não ser cassado. Na crista, um sinistro careca, de nome Valério,
roubaria a cena. Até o publicitário Duda Mendonça tirava suas casquinhas. Uma
festa democrática com a cara e a digital do PT.
Lula tremeu. Apareceu humilde,
pálido e sudoreico pedindo desculpas ao povo brasileiro. Queixava-se de
traição. Nunca soube de nada. Um anjinho barroco em meio de víboras. Não cairia
por pura incompetência da oposição, ela própria com indeléveis nódoas morais.
Enquanto essa gente nadava (e continuou
nadando) em ouro suspeito, a equipe brasileira de ginastas passa vergonha em
Londres, grotescamente, em sucessivas
quedas de bunda, depois de manjadas
piruetinhas. O natural nervosismo mistura-se
à insuficiente preparação, à falta de renovação do plantel. Nossas apostas
estão nos artríticos Hipólitos e Daiane dos Santos. É de causar dó o sofrimento
dessas criaturas. Daqui a pouco esses gloriosos atletas estarão competindo de
bengala ou cadeira de rodas. Que ninguém se engane, isso aí é a síntese da
educação capenga, meia-boca, do país. Do
“nóis é feliz”.
Diferentemente da bisonha
campanha em Londres, imediatamente punida pela ausência de medalhas, nossos
pilantras mensaleiros estão longe de maiores admoestações. É que, dizem as más
línguas, as nomeações para os altos cargos teriam preço e prazo. É justo.
Finalmente, a gratidão é um dos sentimentos mais nobres do ser humano. É
chegada a hora da cobrança.
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