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segunda-feira, 28 de maio de 2012

DICA DA GLAFIRA: "UM TEXTO DE WOTZIK"

"Outro dia, estava parado de carro no sinal, quando um sujeito, até que bem vestido, atravessou a rua, e deu um murro no capô do meu carro. Eu, puto, abri a janela, e falei com perplexidade contida: “ô meu irmão, por que você fez isso?!” O cara veio andando na minha direção, me olhou e disse, bêbado: “vai pra casa rapaz!” Eu tenho que confessar: tive medo. Medo de levar um tiro. E tremi. Nos poucos segundos que levou sua vinda na minha direção, me arrependi profundamente de ter reclamado da sua atitude insana, e vi a morte de perto, e achei que ia morrer. Vi o cara sacando de um revolver, e me dando um tiro assim, sem mais nem menos. Eu vi, e senti, e é assim que ando vivendo e sentindo. Antigamente, se alguém me esbarrasse, eu empurrava de volta, levava uns socos e saíamos os dois machucados. Hoje, se alguém é empurrado, é capaz de levar um tiro. “Morreu por que, meu filho?” “Porque esbarraram em mim, e reagi.” Fim. Morreu de esbarrão. “Atropelado por uma carrocinha de chica-bom”, como diria Nelson Rodrigues, quando queria citar a morte ridícula de alguém. Eu, até andei propondo, se não tem jeito, se vai atirar mesmo, uma campanha a favor do tiro no pé. Isso mesmo. Pelo amor de Deus, pare de atirar para matar. Atire pra assustar, pra ferir, de raspão. Falei outro dia pro meu filho: se um menino maior que você vier pegar sua bola, entrega, tranquilamente entrega, e ainda diz que foi o papai que mandou. Ah! Lembram do Posto da praia que ficaram reformando durante todo o verão. Pois ficou pronto. Com a escada virada para a calçada. Se o Salva Vidas vir alguém se afogando, ou roubando, e achar que é sua obrigação salvar o sujeito, vai ter que correr para trás, passar pela catraca, pagar um real, fazer uma curva de 180 graus para então chegar na areia. Ô vida! Tudo anda ao contrário. Acordar de ponta a cabeça é o jeito. E de ovo virado é que é o certo. Quanto pior melhor. E viva as Xuxas, as Dickermans, os cachoeiras, os rios que correm para cima, o Ministro da Justiça que defende o contraventor que já está preso." - Eduardo Wotzik

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