O Cachorro que Chorava
Alagoas é celeiro de bons
jornalistas. A imprensa honesta batalhadora e competente faz parte de nossa
história. A última safra tem Ricardo Rodrigues
como dos melhores jornalistas atuantes. Ele opera também na área da boemia.
No
último domingo, tomamos algumas cervejas junto a Marcelo Firmino, na gostosa
orla da Ponta Verde, contemplando o mar azul esverdeado brilhar com o sol do
verão de abril. Ricardo lembrou o caso do cachorro que chorava. Um fenômeno que
abalou, assanhou a cidade e o Brasil nos idos dos anos 70.
Quando
Ricardo completou 10 anos, ganhou do pai, Arlindo, um lindo cachorro. Não
pertencia a alguma raça específica, ou seja, um legítimo vira-lata. Colocaram o
nome de Jonhson, homenagem ao presidente dos USA. O cachorro ficou bonito
danado, cresceu apegado ao dono.
Certa
vez, durante a madrugada, roubaram algumas garrafas de cachaça no Bar de Seu
Arlindo, ponto de encontro da boemia em Jaraguá. Ele resolveu levar o cachorro
para dormir no bar, a contragosto de Ricardo. Jonhson tornou-se patrimônio, mascote
do Bar do Arlindo. Os fregueses tinham carinho pelo cão.
O bar
era freqüentado por artistas e boêmios. Seu Arlindo colocava música na possante
vitrola Phillips, a moçada curtia Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Elizeth
Cardoso e outros cantores da época enquanto tomava cerveja e branquinha.
Certo
dia, Seu Arlindo notou Jonhson chorar. Uivava, quando tocava música; não todas.
Finalmente descobriu, o choro se dava apenas com Altemar Dutra. O cachorro
chorava exclusivamente com a música “Vida Minha” do Altemar.
Johnson
tornou-se atração. Quando aparecia um desavisado, os assíduos frequentadores
apostavam como o cachorro chorava ao ouvir música. Alguns desatentos pagaram
garrafas, caixas de cervejas, para os malandros.
O fato
se espalhou nos meios boêmios da cidade, entrou pelo Poço, Mangabeiras, Ponta
da Terra, Pajuçara, até no Tabuleiro. Todos queriam conhecer o cachorro que
chorava. O Bar do Arlindo de repente, se encheu. Gente do povo, deputado,
senador, coronel, capitão, ficavam pasmados com o choro de Johnson.
Sociólogos, filósofos, professores da UFAL tentaram explicar o fenômeno.
Muitas páginas foram escritas em tese de mestrado sobre o cachorro que
chorava. Teorias fizeram trabalhar os
tipos das máquinas de datilografias da época.
Certa
noite apareceu o jornalista Bernardino Souto Maior. Ao ouvir o uivo do cachorro
ao som da música do Altemar Dutra, foi taxativo com Arlindo:
-“Vou levar você e o cachorro para o Programa
Flávio Cavalcante”
Naquela época, na TV Tupi de São Paulo, o Programa Flávio Cavalcante,
tinha a maior audiência no Brasil. Havia um quadro chamado “Fora de Série”,
onde Flávio apresentava histórias interessantes, fenômenos e outras gaiatices.
Não
deu 15 dias, Bernardino entrou no Bar do Arlindo:
“- Prepare uma jaula para o cachorro. Aqui estão
nossas passagens para São Paulo. Vamos viajar amanhã e entrar no ar ao vivo no
domingo.”
Numa
fria madrugada de sexta-feira no Aeroporto Campo dos Palmares, entraram no
avião: Arlindo, Bernardino e o já famoso Jonhson.
Na hora
do programa ao vivo, todos estavam nervosos. Se falhasse seria vexame
televisionado para todo o Brasil. Até que chegou o momento. Flávio Cavalcante
com sua empáfia de apresentador estrelado iniciou:
“-E agora meus amigos de todo o Brasil. Vou
apresentar Jonhson, o cachorro que veio das Alagoas. Um sentimental cachorro
que chora quando ouve Altemar Dutra.”
Entraram Bernardino e Seu Arlindo com Jonhson. Depois de algumas
perguntas, finalmente Flávio manda rodar a música. Maior expectativa. Quando se
ouviu: “Eu acordei chorando... e tu não
acreditaste... vida minha...”, Jonhson irrompeu em uivos. Chorou com
lágrimas caindo como uma personagem de novela mexicana.
A platéia
e todos os expectadores ligados na TV deliraram. Maior sucesso, muitos
aplausos. Johnson era a nova sensação do Brasil.
Muitos
quiseram comprar nosso herói canino. Chegaram propostas do Recife, da Bahia, do
Rio de Janeiro. Um milionário de New York mandou uma oferta fabulosa. Mas Seu
Arlindo preferiu conservar Jonhson junto a ele, fazendo guarda em seu bar e
brincando com o filho Ricardo.
Nunca
mais um alagoano foi tão aplaudido em rede de televisão nacional. Difícil um
sucesso como o de Jonhson, o cachorro que chorava.
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