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segunda-feira, 30 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Foi antecipada devido à viagem do autor


O Cachorro que Chorava



             
 Alagoas é celeiro de bons jornalistas. A imprensa honesta batalhadora e competente faz parte de nossa história. A última safra tem Ricardo Rodrigues como dos melhores jornalistas atuantes. Ele opera também na área da boemia.
     No último domingo, tomamos algumas cervejas junto a Marcelo Firmino, na gostosa orla da Ponta Verde, contemplando o mar azul esverdeado brilhar com o sol do verão de abril. Ricardo lembrou o caso do cachorro que chorava. Um fenômeno que abalou, assanhou a cidade e o Brasil nos idos dos anos 70.
      Quando Ricardo completou 10 anos, ganhou do pai, Arlindo, um lindo cachorro. Não pertencia a alguma raça específica, ou seja, um legítimo vira-lata. Colocaram o nome de Jonhson, homenagem ao presidente dos USA. O cachorro ficou bonito danado, cresceu apegado ao dono.
      Certa vez, durante a madrugada, roubaram algumas garrafas de cachaça no Bar de Seu Arlindo, ponto de encontro da boemia em Jaraguá. Ele resolveu levar o cachorro para dormir no bar, a contragosto de Ricardo. Jonhson tornou-se patrimônio, mascote do Bar do Arlindo. Os fregueses tinham carinho pelo cão.
     O bar era freqüentado por artistas e boêmios. Seu Arlindo colocava música na possante vitrola Phillips, a moçada curtia Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Elizeth Cardoso e outros cantores da época enquanto tomava cerveja e branquinha.
    Certo dia, Seu Arlindo notou Jonhson chorar. Uivava, quando tocava música; não todas. Finalmente descobriu, o choro se dava apenas com Altemar Dutra. O cachorro chorava exclusivamente com a música “Vida Minha” do Altemar.
    Johnson tornou-se atração. Quando aparecia um desavisado, os assíduos frequentadores apostavam como o cachorro chorava ao ouvir música. Alguns desatentos pagaram garrafas, caixas de cervejas, para os malandros.
     O fato se espalhou nos meios boêmios da cidade, entrou pelo Poço, Mangabeiras, Ponta da Terra, Pajuçara, até no Tabuleiro. Todos queriam conhecer o cachorro que chorava. O Bar do Arlindo de repente, se encheu. Gente do povo, deputado, senador, coronel, capitão, ficavam pasmados com o choro de Johnson.
       Sociólogos, filósofos, professores da UFAL tentaram explicar o fenômeno. Muitas páginas foram escritas em tese de mestrado sobre o cachorro que chorava.  Teorias fizeram trabalhar os tipos das máquinas de datilografias da época.
        Certa noite apareceu o jornalista Bernardino Souto Maior. Ao ouvir o uivo do cachorro ao som da música do Altemar Dutra, foi taxativo com Arlindo:
            -“Vou levar você e o cachorro para o Programa Flávio Cavalcante”
       Naquela época, na TV Tupi de São Paulo, o Programa Flávio Cavalcante, tinha a maior audiência no Brasil. Havia um quadro chamado “Fora de Série”, onde Flávio apresentava histórias interessantes, fenômenos e outras gaiatices.
        Não deu 15 dias, Bernardino entrou no Bar do Arlindo:
      “- Prepare uma jaula para o cachorro. Aqui estão nossas passagens para São Paulo. Vamos viajar amanhã e entrar no ar ao vivo no domingo.”
     Numa fria madrugada de sexta-feira no Aeroporto Campo dos Palmares, entraram no avião: Arlindo, Bernardino e o já famoso Jonhson.
    Na hora do programa ao vivo, todos estavam nervosos. Se falhasse seria vexame televisionado para todo o Brasil. Até que chegou o momento. Flávio Cavalcante com sua empáfia de apresentador estrelado iniciou:
    “-E agora meus amigos de todo o Brasil. Vou apresentar Jonhson, o cachorro que veio das Alagoas. Um sentimental cachorro que chora quando ouve Altemar Dutra.”
       Entraram Bernardino e Seu Arlindo com Jonhson. Depois de algumas perguntas, finalmente Flávio manda rodar a música. Maior expectativa. Quando se ouviu: “Eu acordei chorando... e tu não acreditaste... vida minha...”, Jonhson irrompeu em uivos. Chorou com lágrimas caindo como uma personagem de novela mexicana.
    A platéia e todos os expectadores ligados na TV deliraram. Maior sucesso, muitos aplausos. Johnson era a nova sensação do Brasil.
     Muitos quiseram comprar nosso herói canino. Chegaram propostas do Recife, da Bahia, do Rio de Janeiro. Um milionário de New York mandou uma oferta fabulosa. Mas Seu Arlindo preferiu conservar Jonhson junto a ele, fazendo guarda em seu bar e brincando com o filho Ricardo.
    Nunca mais um alagoano foi tão aplaudido em rede de televisão nacional. Difícil um sucesso como o de Jonhson, o cachorro que chorava.



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