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quinta-feira, 29 de março de 2012

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


O APOSENTADO

                                                Ilustração: Nerino de Campos ( Internet)

- “Hoje foi de arrepiar, muito movimento na loja e pouca compra...”                                             É assim que Matilde inicia reclamando, ao chegar em casa à noite enquanto Bruno assiste televisão. Toma meia hora do marido em conversa sobre a loja, aliás, monólogo ininterrupto, ele apenas ouve. Onze horas toma banho, veste pijaminha, deita-se ao lado da esposa, 110 quilos de peso e 39 anos de casados. Há muito tempo sem carinho, sem amor, sem transa.
Certa manhã ao chegar de sua caminhada matinal, o aposentado Bruno encontrou Matilde conversando com uma jovem de saia abaixo ao joelho, camisa branca, mangas compridas, fechada no punho e no pescoço, cabelo em coque amarrado para trás. Seus traços bonitos se apagavam sem pintura, sem brinco ou miçangas. A esposa apresentou, era a nova empregada. Madalena o cumprimentou olhando para o chão. Enquanto chupava laranja Bruno escutava as ordens de sua dura mulher, no final, ela virou-se para o marido.
-“Agora discuta com o Dr. Bruno seu ordenado e os pagamentos”.
Bruno sentou-se, olhou para a nova empregada, não demoraram a se entenderem. Salário mínimo, FGTS, INSS, folga aos sábados à tarde e aos domingos. Madalena aceitou a proposta, do salário haveria de recolher o dízimo (10%) a sua Igreja. Teria tempo para orações no domingo.
A jovem discreta, de roupas e falas comedidas, com o tempo tornou-se alegre dentro da casa de Matilde. Cozinhava bem, os cômodos sempre limpos, a dona da casa estava satisfeita, não precisava fiscalizar, perfeição nos serviços. Matilde sai de casa pelas 10 da manhã direto para loja, almoça no Shopping, raramente em casa, só retorna pelas 9 ou 10 da noite.  O marido reclama, da boca para fora, de sua dedicação ao trabalho, os filhos estão criados, ela não precisa trabalhar tanto. Matilde responde que o trabalho faz bem ao corpo e a mente, ama sua loja, jamais ficaria o dia em casa, coisa de velho aposentado, alusão clara ao marido.
Bruno tem uma aposentadoria pequena, entretanto, devido à herança comprou quatro apartamentos, melhorou seu padrão de vida, ainda empresta algum dinheiro a amigos.
Ele passa a manhã no computador, no face book, escrevendo crônicas, publicadas em alguns blogs, contudo, ele gosta mesmo de abrir páginas de sexo na internet, se excita, depois visita uma casa de massagem na Mangabeiras.
. Certa vez Madalena, a empregada, olhando por trás se aproximou do patrão e falou baixinho, sem precisar, estavam apenas os dois na casa.
   “- Dr. Bruno o senhor gosta de mulheres, não é? Eu vejo no computador. Sabe, o novo pastor de minha Igreja me disse que não é pecado e me abraçou e me beijou dentro do carro. Eu gosto, meu marido me abandonou, sinto falta.”
Bruno com surpresa olhou para a empregada, percebeu nos seus olhos faíscas de mulher no cio. Disse-lhe ser ateu, não se metia com religião dos outros, quem quiser que faça sexo, não havia pecado.
Semanas se passaram Bruno já olhava Madalena com outros olhos, ficava fantasiando o que havia por baixo daquelas vestes arcaicas. Certa tarde puxou conversa: “O pastor lhe deixou em paz?” Madalena chegou-se bem perto do patrão e falou baixinho como segredo. “Dr. Bruno ele me levou para um motel, coisa bonita, cheia de espelhos, eu gostei, vivia pensando na hora de sair com ele. Agora eu estou com medo, tem dois problemas, além de ser casado, ele gosta de bater, olha a marca aqui”. Imediatamente levantou a saia, apareceu o corpo de Madalena, perfeito, pernas mais bonita Bruno nunca as viu iguais. Examinou extasiado os hematomas na coxa da empregada, alisou, quando percebeu os olhos faiscando, não teve dúvida ali mesmo na sala aconteceu. A mulher por baixo dos mantos é uma loba, um vulcão, agora em erupção nos braços do aposentado.
Ela continua em seu emprego, deixou o pastor de vez. Bruno disfarça bem, só faz amor no motel, dobrou o salário, sendo que, dessa outra metade, Madalena não paga o dízimo da Igreja, não é salário, é gratificação de serviços extras.

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