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quinta-feira, 1 de março de 2012

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carito Lima


                          TRICOLOR DE CORAÇÃO
                                                                    


         “Sou tricolor de coração”, é um sentimento forte, até irracional, como dissesse que sua vida, seu ser, é o próprio time que torce. Continua a música... “O Fluminense me fascina, eu tenho amor ao tricolor”, declaração de amor, de ternura por uma entidade quase abstrata, uma entidade perto de fictícia, mutante, um time de futebol.
 Quando tinha meus seis anos de idade, numa tarde de domingo eu brincava com amigos na Avenida da Paz, apareceu um primo, Warren, um pouco mais velho, levantava a bandeira do Fluminense vibrando, comemorando o campeonato carioca de futebol de 1946. A partir daquele momento, menino ainda, tornou-me tricolor. Embora meu pai fosse Fluminense, minha preferência não teve sua influência, ele não fez que nem eu, quando meu filho Henrique nasceu, cobri o berço com uma bandeira tricolor. Ele foi crescendo ganhando camisas do Flu, ainda hoje lhe presenteio. Não é a toa que sua filha, minha neta Camila, é tricolor, quatro gerações tricolores na família.
Não conheço motivo racional explicando esse sentimento ardente, passional, fanático de um torcedor. Tenho amigos que está na quarta ou quinta esposa, entretanto, continuam torcendo pelo mesmo clube, só não acaba a paixão por seu time do coração. Mudam as mulheres, mas os times continuam os mesmos. Parodiando o poeta Lêdo Ivo: “Amar mulheres, várias. Time de futebol, apenas um...” Quando um cidadão muda de clube é chamado de vira casaca, em meus mais de 70 anos de vida não conheço alguém que mudou de time, alguém que virou a casaca. Os jogadores dos clubes mudam, existem alguns que jogaram em mais de seis clubes, são profissionais. Entretanto, os torcedores continuam. Quando um time passa por má fase, o torcedor fica com o coração apertado, sofre, chora, mas um dia seu time se recupera e vem lhe dar a alegria irracional, fugaz, que é ser campeão de qual torneio.  Vejam vocês meus amigos, o Fluminense ganhou a Taça Guanabara domingo, quase uma semana se passou, todos os dias coloco a camisa das três cores andando na praia, ainda sinto abraços, ainda ouço gritos de gol, ficou gravado em minha mente o gol magistral de Deco, enganando ao bom goleiro do Vasco e a todos que assistiam ao jogo. Ao terminar um campeonato já entramos em outro, torcendo, ouvindo as notícias, discutindo apaixonadamente com amigos, ninguém tem razão, o torcedor só quer a liberdade de torcer e discutir, basta isso para ser feliz.
Diz a lenda que nos anos 60 o Volkswagen montado na segunda-feira após jogo ganho pelo Corinthians tinha sempre um defeito, os operários corintianos trabalhavam de ressaca, as conversas animadas na linha de montagem distraiam os trabalhadores.
Todas as mulheres gostam quando fazemos loucuras de amor, no futebol existem as loucuras de torcedor, andam pelo mundo acompanhando o time. No Brasil existe muito homem sessentão com o nome Ademir, foi homenagem ao magnífico Ademir Queixada, o maior goleador dos anos 50.
  Há mais de trinta anos eu tive a honra de ser eleito Prefeito de Barra de São Miguel, aliás, foi Dona Leonita, a prefeita anterior, que me elegeu. No início do mandato, Dona Rosa, secretária de educação, veio com um problema a ser resolvido com urgência, Como Barra de São Miguel era município novo, não tinha ainda uma bandeira. Eu prometi resolver o problema com rapidez. À noite, em minha casa, arrumei a prancheta de engenheiro, coloquei papel de desenho, passei mais de quatro horas desenhando e redesenhando a bandeira da Barra. Dia seguinte pedi ao Dr. Théo Brandão, o homem que mais conhecia heráldica no Estado, desenhar o brasão da bandeira. Ele desenhou um escudo muito significativo. No fim de semana a Câmara de Vereadores aprovou, e ainda hoje tremula na porta das repartições da Barra de São Miguel a bandeira com as três cores: Verde, Branca e Vermelha, bem parecida com a do Fluminense.

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