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sábado, 25 de fevereiro de 2012

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


CRÔNICA PING PONG
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL


Como mais um rio que passou na vida, o Carnaval de 2011 se foi. Os anos pesando, fico satisfeito em ainda ter saúde e poder curtir a companhia da família, dos netos, apreender momentos inesquecíveis e ensinar-lhes algumas coisas que aprendi na infância, como o ping pong.
 Na minha casa em Bebedouro todos jogavam um pouco. Meu pai não era um virtuoso, mas tinha lá seus recursos de efeito em que, como um batedor de pênalti, desconsertava os incautos apontando a raquete para um lado e, maliciosamente, tocava de efeito no lado oposto. Em sua memória, de vez em quando repito a jogada. Às vezes dá certo...
Naquela época, o grande campeão brasileiro atendia por Biriba, apelido certamente mais adequado a jogador de buraco. De qualquer forma, esse cidadão marcou presença e teria chegado a disputar títulos mundiais com os imbatíveis japoneses. Modestamente, os bebedourenses se satisfaziam em disputas paroquiais, ginasianas e universitárias.
Nem só de ping pong vive o Carnaval. Ao longe, acompanhei a expressiva homenagem póstuma a Marcial Lima, pelo bloco Pinto da Madrugada. Já se disse tudo sobre o Marcial. Minhas lembranças pessoais remontam desde a última década de sessenta, quando, magríssimo, deixar-se-ia fotografar “trombando” com uma lambreta num poste da Praça Sinimbu. Intelectual proativo, o desempenho artístico mais visível – quer me parecer- foi na propaganda da empresa de limpeza Ageal... Efetivamente, Alagoas perdeu um dos filhos mais ilustres.
Também vibrei com a apoteótica consagração do amigo Carlito Lima, exibindo  saúde de touro reprodutor, tema de samba enredo da Gaviões da Pajuçara. Como diz o poeta, “merece uma homenagem quem tem forças pra cantar.../” e Carlito tem tudo a ver com isso.
Saudosista por excelência, degustei, além de sucos de frutas, Caderno da Militância, do historiador Geraldo de Majella. Livro de memórias de 2006, com rigor cronológico,  o autor descreve algumas atividades do Partido Comunista, o “Pecebão”.  Majella nos brinda com histórias pouco conhecidas do grande público. A percepção é de nostalgia, sobretudo porque o período marca o final da sigla, quando a situação mundial (queda do Muro de Berlim e redemocratização russa) assinalava o anacronismo de certos conceitos, a quebra dos velhos paradigmas comunistas.
Nesse ping pong carnavalesco, o livro de Majella nos ajuda a penetrar na podridão dos conchavos da política alagoana. Nojeiras que só aumentaram com os anos.


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