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sábado, 25 de fevereiro de 2012

EXCELENTE E LÚCIDO TEXTO DE JOALDO CAVALCANTE PUBLICADO NA GAZETA DE ALAGOAS


O GESTOR, O EVENTO E O AMADORISMO
Por: » JOALDO CAVALCANTE – jornalista.

Quem esteve na Praia de Pajuçara na noite de sábado de Zé Pereira, primeiro dia da folia momesca, para acompanhar os desfiles das escolas de samba de Maceió certamente não saiu com boa impressão do evento. Ao lado do palanque oficial, as arquibancadas abarrotavam um público praticamente na escuridão. Não era falta de energia elétrica, mas de cuidado com a iluminação. Toda a área reservada às evoluções das agremiações não foi iluminada de forma decente, o que se constituiu num desrespeito aos sambistas e àqueles que ali compareceram para reafirmar uma bela tradição.

Nesse carnaval do improviso e da falta de criatividade, há de se concluir o seguinte: primeiro, em se tratando de folia, vamos logo abominar a ideia de que Maceió não possui tradição, restando-nos apenas o contentamento com as prévias. Os fatos implodem tal constatação. Quando o poder público oferece programação, mesmo sendo pífia, a população responde massivamente ao chamamento – e até brinca resignadamente, como ocorreu na noite de sábado, na Pajuçara.

Segundo, é imperiosa a necessidade de atividades organizadas e que respeitem os aspectos culturais. Aqueles que lidam com o universo artístico-cultural alagoano estão mais do que convencidos de que somos órfãos de gestores que resolvam efetivamente construir um calendário permanente de eventos. Chega de atravessar o samba, de tratar o réveillon, o carnaval, as festas juninas e o Natal sem a devida importância e profissionalismo. Temos pessoas competentes que certamente estão dispostas a contribuir para incluir nossa cidade na rota da multiculturalidade, já impregnada em festas populares de várias cidades nordestinas.

Passada a ressaca carnavalesca, o próprio debate da sucessão municipal deverá, naturalmente, trazer à baila este tema, bem como sua relevância no contexto das decisões políticas a serem tomadas pelo gestor público. Cuidar responsavelmente de um calendário de eventos é ter em mente valores que se somam ao processo de desenvolvimento da própria coletividade. Longe da carcomida mentalidade de oferecer “pão e circo”, em que as festas costumam virar subproduto ocasional da politicalha, deve-se mesmo cultivar a preocupação perene com a geração de oportunidades, cuja matéria-prima é proporcionada pelas manifestações advindas do próprio saber popular. 

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