NABABOS E ANACORETAS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO
Espremido por dívidas - segundo a imprensa- mais um hospital em Alagoas joga a toalha, nocauteado pelo mão pesada do SUS. Vítima do terrível barionix governamental, desta vez foi o Hospital Santa Maria, da próspera Arapiraca. É uma triste notícia que parece não comover ou preocupar as autoridades.
Coincidentemente, na mesma semana, Arapiraca foi anfitriã da ilustre visitante Dilma Rousseff e sua honorável comitiva. Cheia de graça, mas sem empolgar ou convencer, Dona Dilma, a faxineira-mor da nação, prometeu água para todos e miséria nunca mais. Sem dúvidas, duas grandes promessas que, se cumpridas, colocariam a nossa dama de ferro no panteão dos grandes presidentes.
Admito meu ceticismo em relação a essas coisas que envolvem verbas astronômicas. Gostaria de estar equivocado, mas quando ouço falar em cifras cabeludas sendo transferidas para obras em nosso estado, logo me vêm o surgimento de novas mansões na Barra de São Miguel, o incremento de rebanhos de bovinos de raça, transferências de propriedades de terras para novos donos e todo o resto que compõe a atividade parlamentar brasileira.
Também não boto fé nessa faxina moral que a presidenta diz vir realizando no Ministério dos Transportes. As razões da desconfiança são simples: nossa doce líder só mostrou serviço depois que a imprensa hegemônica pôs a boca no trombone e escancarou os esquemas de assalto ao erário. Não fora pelos rancorosos da imprensa ainda hoje Nascimento, Valdemar e outros estariam faturando alto. Da mesma forma, ninguém é bobo para imaginar que os ladrões estão concentrados apenas em um só ministério...
Quem também está de luto é o ensino, com o virtual fechamento do Colégio Batista, um dos mais antigos educandários de Maceió. Com efeito, há sessenta anos, quando comecei a estudar no Colégio Diocesano, o Batista já era sólido. Não obstante o rigor vigente, foi um dos primeiros a admitir meninos e meninas na mesma sala de aula. Por conta da novidade, coleguinhas adolescentes mais salientes encontrariam um motivo a mais para lá estudarem.
O fato é que o desmonte da saúde e do ensino no país é um processo que passa por muitas mãos. O desrespeito pelos médicos e professores é revelado pela ridícula remuneração. Contrasta com os salários robustos de outras atividades. Na visão dos calhordas, médicos e professores são “apóstolos”, “idealistas”, e portanto desprovidos de impuras necessidades terrenas. Anacoretas, purificam-se com trabalho e sofrimento.
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