EXOESQUELETOS E PERFEITAS SIMBIOSES
RONALD MENDONÇA
MÉDICO
Lançado nos anos 90 do findo século, “Nascido em 4 de julho” foi um filme que emocionou as platéias do mundo inteiro. Vinte anos depois, creio que continua criando impacto, apesar das grandes transformações da humanidade. O roteiro fixa-se no período que precedeu a entrada dos americanos na guerra do Vietnam, incluindo o início do governo Kennedy, cujo famoso discurso “Não pergunteis o que o país pode fazer por vós, mas o que podeis fazer por ele”, ajudaria a criar uma atmosfera de exacerbação delirante do nacionalismo, fato que propiciaria a malfadada aventura bélica.
A família do adolescente Ron Kovic (personagem vivida por Tom Cruise), impregnada desses acerbos valores, não hesitaria em enviar o filho para o front asiático. Das tantas cenas comoventes vividas pelo personagem – depois transformado em ativista contra a guerra – recordo aquela em que, paraplégico indócil, é colocado numa tosca engenhoca para ficar de pé. A tentativa revela-se fracassada, resultando num tombo monumental e numa fratura exposta. A cadeira de rodas o aguardava.
Concentrando na parte médica, o fato é que a paraplegia por lesão medular de origem traumática ou não tem sido um desafio para a ciência. Recentemente, a imprensa noticiou que, na Bahia, teria havido uma experiência promissora com o uso de células tronco injetadas no foco da lesão medular. É bom que se alerte: não é o primeiro estardalhaço envolvendo células tronco em experimentos inconclusos, apenas pelos simples motivos de ganhar espaço na mídia e clientela incauta.
Há cerca de um mês, durante cerimônia de colação de grau, um jovem americano teria provocado grande frisson ao receber seu canudo. Paraplégico, o formando teria caminhado até a mesa com a ajuda de uma estrutura denominada de exoesqueleto robótico, rara jóia da engenharia criada na própria universidade onde o jovem formou-se. Neste caso, a arte imitou a natureza, posto que muitos animais são dotados desta estrutura que os ajudam até na hora de voar.
Por falar em voar, outro que fez valer a importância dos exoesqueletos enquanto suportes para o lazer foi o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Mestre na arte de fazer caras e bocas, tendo como moeda de troca o patrimônio público, voando para a Bahia, o primo Cabral comprovou como se governa um estado em perfeita simbiótica harmonia (para muitos, nojenta promiscuidade) com o rico empresariado. Eike Batista e Cavendish são os exoesqueletos da vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário