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quarta-feira, 1 de junho de 2011

UM TEXTO DE CLOVIS ROSSI

Uma noite de abril de 2003 jantei com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em Washington. Foi aliás a convite dele.
Mas aproveitei para tentar mostrar ao leitor como era a vida de um ex-trotskista, daqueles de gritar "abaixo o FMI", como ele próprio me contou, convertido, então como agora, à ortodoxia do Fundo.
Perguntei se Palocci entendia de economia. Respondeu que sabia apenas o macro. Aprendera, como prefeito de Ribeirão Preto, que "é preciso pagar as contas".
Vê-se agora que Palocci é um aluno excepcional: mesmo sem entender muito de economia, deu consultorias, que lhe permitem pagar todas as contas e ainda sobrar renda, que "chamam a atenção", como diz um raro petista não contaminado pelo total cinismo, caso do governador Jaques Wagner.
Chama mais a atenção porque, apenas três anos antes de dar início à exuberante carreira de consultor, Palocci recebia consultoria, em vez de prestá-la.
Está lá, no texto publicado em 2003, uma lista parcial de economistas nacionais e estrangeiros que o ministro dizia consultar: de Delfim Netto a Maria da Conceição Tavares, de Joseph Stiglitz a Jeffrey Sachs, todos grifes de porte no ramo, embora de etiquetas diferentes, até opostas.
Tudo somado, acho que só cabem duas linhas de investigação para apurar a evolução patrimonial que tanto chamou a atenção de Jaques Wagner (e das torcidas do Corinthians e do Flamengo em peso):
1 - A neurociência ou qualquer outra ciência prova que o cérebro de Palocci é uma esponja extraordinária, capaz de absorver conhecimentos em quantidade, qualidade e velocidade inéditas no planeta.
2 - É tráfico de influência mesmo, tentado pelas empresas contratantes ou efetivamente levado a cabo.
Jaques Wagner, colega que foi de Palocci no Ministério Lula, não parece acreditar na hipótese 1.

crossi@uol.com.br

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