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sexta-feira, 29 de abril de 2011

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

UMA BACTÉRIA DO BARULHO

Ronald Mendonça
Médico

Leio nas folhas que as empreiteiras querem reajustar valores para obras públicas.
Com a competência dos grandes lobistas, certamente conseguirão atingir seus objetivos.
À boca larga, há um claro entendimento da participação de parlamentares nessas
reivindicações, nem sempre movidas por espírito patriótico. Explicando melhor: nobres
parlamentares não passariam de lobistas de empreiteiras de olho em gordas comissões.
Muitos deles seriam esforçados sócios de construtoras. De qualquer forma, visam
o enriquecimento pessoal/familiar. É possível que aí resida o “segredo” do sucesso
financeiro de tantos e tantos legisladores país afora.
Às portas de uma Copa do Mundo, com obras gigantescas em atraso, as
empreiteiras e seus influentes lobistas, mais do que nunca, “dão as cartas e jogam
de mão”, como se dizia antigamente. Existem obras ainda no papel e já se fala em
majoração de preços – como é o caso do trem-bala de São Paulo. Uma mina de
diamantes. A transposição do São Francisco é outra boquinha maravilhosa...
Mas o que seria do Brasil sem esses fantásticos lobistas e o apadrinhamento de
parlamentares? Com certeza se os preços das obras fossem justos, um centímetro de
asfalto não seria construído. Em vez de majestosas pontes, prosaicas pinguelas. Nos
nossos aeroportos, mal e porcamente, só pousariam urubus e teco-tecos.
Reflito sobre esse modelo perverso de liberação de verbas do governo ao
conviver “diuturnamente e noturnamente” (singular construção da presidenta,
embaralhando significados) com esses bichinhos conhecidos como bactérias.
Hoje a grande estrela-vilã é o Acinetobacter baumannii, microorganismo de
distribuição universal, que tem causado grande estrago nos hospitais brasileiros. Em
Alagoas, particularmente em UTIs de Maceió, nos últimos meses seu nome tem
sido sussurrado em voz baixa, auricular. Com efeito, olha-se para os lados antes de
cochichar-se entre paredes: “é a `bactéria´”. Quase uma condenação.
O fato é que a criatura agiganta-se em ambientes propícios: pacientes com
imunidade comprometida e promiscuidade. Há anos, nosso HGE vive a tragédia da
superpopulação humana. Para completar o drama, o SUS local trata com flagrante
desigualdade (privilegiando algumas unidades) a rede conveniada, dificultando ainda
mais a transferência dos doentes.
Por fim, garanto que se a Saúde tivesse a força do lobby das empreiteiras, os
diretores do HGE e do Hospital Universitário não estariam, ingloriamente, trocando
farpas pela imprensa.

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