quinta-feira, 14 de maio de 2015

UM TEXTO DO GENERAL RÔMULO BINI - ESTADO DE SÃO PAUO

REDEMOINHOS

“Por aqui não passam!” (Marechal Emilio Mallet – 1866)


Na minha geração, jovens do interior do país aprendiam a nadar em rios de sua região. Fossem caudalosos ou não, os maiores perigos enfrentados na aprendizagem estavam nos redemoinhos. Os de menor porte eram fáceis de serem eliminados, mas os demais, devido à enormidade da força e da velocidade que atingiam, eram difíceis de serem anulados. Aprendi que, se fosse lançado um objeto de grande porte no seu centro  — por exemplo, um toro seco —  o equilíbrio circular de seus movimentos era interrompido e o remanso estabelecia-se no leito do rio.
Estas lembranças da juventude surgem a propósito da grave crise político-institucional que assola o país e, pela sequência de novos fatos negativos, tornam-se um imenso redemoinho de final imprevisível. Será que não existe um toro seco para eliminá-lo e que permita o país retornar ao seu leito normal? Os três poderes da União poderiam executar este papel salvador?
O  Legislativo, com um pomposo protagonismo neste início de mandato, já demonstra um arrefecimento em suas atitudes. Não só pela inclusão de parlamentares e dos dois presidentes das Casas como beneficiários de supostas propinas, para não citar ainda o constrangedor episódio dos mamíferos roedores em audiência da CPI da Petrobras. A deterioração de seu relacionamento com o Executivo impôs a indicação de um novo coordenador político, o Vice Presidente, que terá a sua missão muito facilitada. Há, segundo os órgãos de imprensa, milhares de cargos de confiança a serem distribuídos em áreas governamentais. Será um processo de barganha em que predominarão os interesses partidários, ideológicos, e até pessoais. Será um voto de cabresto no mais alto nível. Assim, o Legislativo, provavelmente não será o toro seco que anulará o redemoinho.
O Judiciário, após o processo do Mensalão, e agora com a Lava-Jato, volta a ser a esperança dos brasileiros, como sendo uma Instituição que poderá diminuir a velocidade deste redemoinho. Integram os seus quadros homens honrados  — com destaque para o Juiz Federal Sergio Moro  e sua equipe —  que não permitirão que este país se  desmantele.
Cabe, entretanto, uma ressalva. O processo jurídico dessa operação deverá ser finalizado no STF. Nas recentes manifestações populares o nome do Ministro Toffoli esteve em evidência, por uma razão mais que justificada. A sua designação para presidir os julgamentos da operação Lava-jato foi considerada uma afronta ao princípio jurídico da isenção. O seu intestino relacionamento com o Partido dos Trabalhadores poderá conduzi-lo a atender interesses outros que não os da Justiça. Decepções e frustrações nestes julgamentos acelerarão a velocidade das águas do redemoinho.
O poder Executivo atingiu um patamar negativo de aceitação pelo povo brasileiro, e reverter este quadro não será fácil. O descrédito observado teve origem na campanha pré-eleitoral da atual presidente. As promessas e afirmações feitas mostraram-se falsas após sua eleição, pois o objetivo maior era a sua permanência no poder. A mentira, diz a sabedoria popular, é o maior passo para o descrédito de um Chefe, e no Brasil a postura de “afastamento" adotada pela presidente agrava o atual quadro de desgoverno no país. A sua presença em público está sendo evitada, a não ser em atos e movimentos ditos sociais promovidos pelo MST e CUT, exércitos do comandante-em-chefe, o ex-presidente Lula.
A esperança de um possível toro seco que venha serenar este crítico momento é o ajuste fiscal preconizado pelo Ministro da Fazenda. Conciliar cortes com o feitio populista de distribuição de benesses deste governo será o grande desafio. Um amargo remédio de difícil ingestão.
No momento as Forças Armadas estão em evidência em razão da surpreendente solicitação de intervenção militar imediata, observada nas manifestações populares  de março e abril. Aos militares da reserva pergunta-se invariavelmente o que farão as FFAA diante dessa  ameaça de desestruturação do país. Por terem vivenciado o período do regime militar, respondem sem querer polemizar, mas com uma boa dose de ironia e irreverência: “Nada! Quanto a nós, só estamos observando, sem nos esquecermos de que, quando veio o Zepelim, fomos a Geni durante trinta anos e não desejamos mais sê-la!”. De fato nestes anos as FFAA  e o regime militar foram acusados de malefícios de toda ordem. Até no presente, quaisquer problemas que surgirem serão consequências da “ditadura militar”.
Talvez os intelectuais pudessem estudar e analisar o porquê deste clamor pelos militares ou, até mesmo, os motivos que levam as FFAA, desde o início da década de 90, a serem consideradas pelo povo a Instituição de maior credibilidade, embora seus detratores propalem que elas conduziram os anos de chumbo e aterrorizaram o povo brasileiro nos vinte anos do regime. Contudo, a melhor resposta vem justamente dos três Comandantes das Forças que asseguram, com clareza e acerto, o respeito integral aos artigos da nossa Constituição. Mas, toro seco elas não mais serão!
Nas recentes comemorações do dia do Exército, o seu Comandante declarou com muita propriedade que a Força Terrestre será sempre democrática, apartidária e inteiramente dedicada ao serviço da Nação. Com o devido respeito, acrescentaria: "sempre vigilante para que regimes espúrios não se apossem de nosso país".
O redemoinho que aqui se formou poderá conduzir a nação a uma instabilidade institucional, se soluções de caráter ideológico, contrárias a um estado democrático de direito forem efetivadas, como preconiza o Foro de São Paulo. A adoção de princípios chavistas-bolivarianos e de uma “democracia” populista e totalitária são claros objetivos dessa organização gramcista.
                É por isso que as nossas FFAA  — a grande avalista da democracia nacional —  deverão estar em perene vigilância, tendo em mente não apenas o lema do Marechal Mallet, mas também o clamor que se fez ouvir em uníssono nas ruas: "Nossa bandeira não é vermelha, é verde-amarela!".

Gen Ex R/1 Rômulo Bini Pereira
Ex-Chefe EM/ Min Def

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